A escolha da especialidade médica é um momento crucial na carreira de qualquer estudante de Medicina, e a cirurgia cardiovascular surge como uma opção desafiadora e recompensadora. Esta especialidade tem um papel vital no tratamento de doenças cardíacas e vasculares, abrangendo desde patologias congênitas até doenças adquiridas, como valvulopatias e aneurismas.
Para os dedicados estudantes que se preparam para ingressar nesse campo, entender as diferentes áreas de atuação, a remuneração e as nuances da residência médica é essencial para uma decisão bem-informada.
O que você vai ler neste artigo
Áreas de atuação em cirurgia cardiovascular
Patologias congênitas
Cirurgiões cardiovasculares atuam no tratamento de patologias cardíacas congênitas, que são condições presentes desde o nascimento. Estes problemas podem ser divididos em duas categorias: cianogênicas e acianogênicas.
Patologias cianogênicas
As patologias cianogênicas são caracterizadas pela baixa oxigenação do sangue, o que leva à cianose, uma coloração azulada na pele e mucosas. Entre os principais tipos, destacam-se:
- Transposição das Grandes Artérias (TGA): Troca de posição entre a aorta e a artéria pulmonar.
- Tetralogia de Fallot: Combinação de quatro defeitos cardíacos.
Patologias acianogênicas
Nas patologias acianogênicas, não ocorre cianose. Estas condições incluem, por exemplo:
- Comunicação Interarterial (CIA): Abertura anormal entre os átrios do coração.
- Comunicação Interventricular (CIV): Abertura anormal entre os ventrículos.
As cardiopatias congênitas são tema frequente de questões de residência médica, e são detalhadas nos materiais do Extensivo de Pediatria do Estratégia MED. Observe o mapa mental sobre o tema:
Patologias adquiridas
Além das congênitas, os cirurgiões cardiovasculares tratam uma ampla gama de patologias cardíacas e vasculares adquiridas ao longo da vida:
Doença isquêmica do coração
Decorre da obstrução das artérias coronárias, levando a quadros como o infarto do miocárdio. O tratamento cirúrgico pode incluir:
- Revascularização do miocárdio: Procedimento para restaurar o fluxo sanguíneo para as áreas afetadas do coração.
A decisão entre indicação de angioplastia ou de cirurgia de revascularização miocárdica no manejo da doença arterial coronariana é frequente na prática do cardiologista, e é discutida no livro digital de Doença Arterial Coronariana Estável, do Extensivo de Cardiologia do Estratégia MED. Observe em destaque um trecho do resumo sobre o tema:
Note que a cirurgia cardiovascular é indicada sobretudo quando o paciente possui lesão de tronco da artéria coronariana esquerda, ou lesões multiarteriais!
Valvopatias
São disfunções das válvulas cardíacas, que podem exigir intervenções como:
- Troca ou reparo de válvulas: Substituição de valvas danificadas por próteses, ou reparação das valvas.
Outras intervenções
Cirurgiões cardiovasculares também realizam procedimentos para:
- Aneurismas: Reparo de dilatações anormais das artérias.
- Distúrbios de condução elétrica: Intervenções para corrigir arritmias, como a ablação.
- Transplantes cardíacos: Substituição do coração por um órgão doador.
- Traumas e tumores: Cirurgias para corrigir danos decorrentes de lesões ou remover massas tumorais no coração ou nos grandes vasos.
Atuação emergencial
A especialidade lida com emergências como as dissecções da aorta, onde uma ruptura na parede da aorta exige reparo imediato para salvar a vida do paciente.
Quanto ganha um cirurgião cardiovascular?
A remuneração de um cirurgião cardiovascular pode variar significativamente com base em diversos fatores, como a localização geográfica, a experiência do profissional e a instituição em que trabalha.
Segundo os dados disponíveis, a faixa salarial para um cirurgião cardiovascular recém-formado pode variar entre R$ 5.554,82 (média do piso salarial em acordos coletivos de 2023) e R$ 15.184,14 (teto salarial). Todavia, na prática, sabe-se que esse valor tem alta variação e pode atingir cifras muito mais altas em grandes centros urbanos. Por exemplo, cirurgiões cardiovasculares atuantes em hospitais de ponta, e que foquem no atendimento privado, podem obter ganhos superiores aos R$ 30.000 – R$40.000 mensais.
Cabe observar, porém, que a atuação do cirurgião cardiovascular requer hospitais altamente especializados e enfoca pacientes com patologias menos comuns. Por tal motivo, em geral há demanda para tais profissionais não é tão grande; assim, nos grandes centros, são poucos os profissionais que se destacam – é muito comum que cirurgiões vasculares tenham que realizar plantões de terapia intensiva para complementar seus ganhos.
Extensivo de Residência Médica
Curso Extensivo Residência Médica - 12 meses
Saiba mais
Curso Extensivo Residência Médica - 18 meses
Saiba mais
Curso Extensivo Residência Médica - 24 meses
Saiba mais
Curso Extensivo Residência Médica - 30 meses
Saiba mais
Curso Extensivo Residência Médica - 36 meses
Saiba mais
A Residência em Cirurgia Cardiovascular
A formação em cirurgia cardiovascular é um processo rigoroso e extenso, que demanda dedicação e esforço contínuos. No Brasil, a residência médica nessa especialidade sofreu uma reformulação em 2018, passando a ter uma duração de quatro anos. Essa mudança eliminou a obrigatoriedade de um pré-requisito em cirurgia geral, permitindo um acesso direto à especialidade.
Primeiro ano
No primeiro ano da residência em cirurgia cardiovascular, o aprendizado se concentra majoritariamente nos cuidados peri-operatórios, em vez do ato cirúrgico propriamente dito. Os residentes são responsáveis por checar exames pré-operatórios, entender a patologia do paciente e planejar a monitorização e os acessos vasculares necessários. Após o procedimento, eles acompanham o paciente até a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou unidade coronariana, reportam o caso ao plantonista e fazem as recomendações necessárias à equipe.
Segundo ano
Considerado por muitos como o ano mais desafiador da residência, o segundo ano apresenta responsabilidades adicionais. Além de continuar aprimorando os conhecimentos adquiridos no primeiro ano, os residentes começam a supervisionar e ensinar os novos colegas. Eles treinam habilidades cruciais como safenectomias, esternotomias e esternorrafias, além de iniciarem dissecações de artérias radiais.
Essa etapa reforça a importância do trabalho em equipe e da liderança, preparando os residentes para assumirem papéis mais ativos durante os procedimentos cirúrgicos subsequentes.
Terceiro ano
O terceiro ano marca um ponto de virada na residência, com o foco centralizado no ato cirúrgico. Os residentes assumem maiores responsabilidades e começam a realizar procedimentos complexos como esternotomia mediana, pericardiotomia e canulação para circulação extracorpórea (CEC). Esse estágio testa a capacidade dos residentes de aplicar conhecimentos teóricos na prática, sob a supervisão de cirurgiões experientes.
Apesar do aumento de responsabilidade, é importante lembrar que a complexidade dos procedimentos limita o número de cirurgias realizadas como cirurgião principal. O objetivo é garantir que os residentes adquiram proficiência técnica e confiança profissional.
Quarto ano
Recentemente adicionado pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), o quarto ano de residência visa aprimorar a experiência prática dos residentes. Nesse último ano, os médicos realizam um maior número de procedimentos como cirurgiões principais, adquirindo maturidade clínica e cirúrgica.
Os residentes também ganham independência e proficiência ao conduzir cirurgias, além de desenvolverem habilidades interpessoais e administrativas necessárias para futuras posições de liderança em serviços de cirurgia cardiovascular.
Escolha da instituição
A escolha da instituição para a residência é crucial, influenciando diretamente a formação e a carreira futura. Centros universitários oferecem uma formação mais acadêmica, enfatizando pesquisa e estudos teóricos. Já serviços predominantemente assistenciais focam na prática diária e no desenvolvimento de habilidades manuais. Assim, é importante que os candidatos considerem suas preferências e objetivos ao selecionar onde realizar sua residência.
Conclusão
A área de cirurgia cardiovascular apresenta-se como uma especialidade desafiadora e de extrema importância, sendo responsável pelo tratamento de patologias cardíacas congênitas e adquiridas.
Este campo oferece ao cirurgião uma atuação diversificada, desde cirurgias paliativas até procedimentos definitivos, envolvendo desde defeitos congênitos complexos até emergências como dissecções da aorta e transplantes cardíacos.
A residência, reestruturada para durar quatro anos, proporciona uma formação robusta, que abrange desde os cuidados peri-operatórios até a execução de procedimentos complexos. Quanto às perspectivas de remuneração e ao mercado de trabalho, cabe observar que se trata de uma especialidade com que fornece a possibilidade de uma elevada renda, mas altamente dependente de recursos de maior complexidade, e com maior dificuldade de inserção para médicos recém-formados.
Leia também:
- Angiologia: residência, atuação e mercado de trabalho
- Cirurgia Oncológica: o que é, residência e mercado de trabalho
- Endocrinologia: residência, atuação e rotina
- Endoscopia: formação, atuação, residência e mercado de trabalho
- Especialista em Obesidade: funções, mercado de trabalho e avanços
- Homeopatia: residência, mercado de trabalho e controvérsias
- Primeiro emprego em Medicina: dicas para o sucesso