Cirurgia Oncológica: o que é, residência e mercado de trabalho

A cirurgia oncológica é uma especialidade médica focada no tratamento cirúrgico do câncer e na preservação da função dos órgãos e tecidos saudáveis. Esta área exige que o profissional não apenas possua habilidades cirúrgicas avançadas, mas também um profundo conhecimento em oncologia, para oferecer um tratamento eficaz e abrangente aos pacientes.

Para aqueles que almejam uma carreira na medicina, compreender a rotina, a formação necessária por meio da residência médica e as oportunidades no mercado de trabalho é fundamental para fazer uma escolha segura e consciente.

O que é cirurgia oncológica?

A cirurgia oncológica é uma especialidade médica dedicada ao tratamento cirúrgico do câncer, com foco na remoção de tumores malignos. Esta área busca não apenas a eliminação completa das células cancerígenas, mas também a preservação das funções dos órgãos e tecidos saudáveis circundantes. O objetivo principal é alcançar a cura ou controlar a progressão da doença, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

Tipos mais comuns de cirurgia oncológica 

Diagnóstico e estadiamento

O cirurgião oncológico pode atuar por meio da realização de biópsias, que consistem em retiradas de pequena porção do tumor para análise ao microscópio e de imunohistoquímica.

Nas cirurgias focadas em estadiamento, o cirurgião avalia características como o tamanho do tumor, o acometimento de linfonodos e a extensão para estruturas adjacentes, que denotam um câncer mais avançado.

O câncer de ovário consiste em um exemplo clássico de câncer em que a cirurgia realizada com fins diagnósticos e de estadiamento é uma etapa essencial do tratamento. Essa avaliação permite guiar a qual tratamento a paciente será submetida, a depender das condições tumorais observadas; observe o esquema retirado do Extensivo do Estratégia MED.

Curativa

As cirurgias curativas enfocam a retirada da maior quantidade possível de tecido canceroso, preservando tecidos saudáveis dos arredores com margens de segurança, visando ao tratamento curativo. Trata-se de uma modalidade cirúrgica empregada no tratamento do câncer localizado e inviável em casos de câncer metastático, que requer terapias sistêmicas. 

Um exemplo clássico de câncer que frequentemente têm indicação de cirurgia curativa – a depender de seu estadiamento – consiste no câncer de mama. Atualmente tem sido priorizada, sempre que possível, a realização de cirurgia conservadora, não de mastectomia, nesses casos. Este tema é abordado em detalhes do Extensivo do Estratégia MED, com destaque, abaixo, para as contraindicações à quadrantectomia no tratamento do câncer de mama.

Dois conceitos-chave para a indicação de cirurgias curativas consistem na operabilidade e na ressecabilidade

  • A operabilidade se refere às condições do paciente. Esse conceito indica que, para passar por cirurgias de grande porte, é necessário que os pacientes tenham funcionalidade e comorbidades que não sejam limitantes – não basta o câncer em si ter condições de ser ressecado. Uma maneira clássica de avaliá-la consiste na escala de Performance de Karnofsky – observe-a a seguir
  • A ressecabilidade se refere às condições do câncer em si. Um exemplo clássico de câncer que demanda avaliação cuidadosa de sua ressecabilidade consiste no câncer de pâncreas – observe o esquema a seguir, retirado do material do Extensivo do Estratégia MED, que ilustra condições indicativas de que o câncer de pâncreas seja passível de ressecção

Paliativa

A cirurgia paliativa visa a proporcionar conforto ao paciente reduzindo a massa tumoral permitindo que, ainda que o câncer não seja tratado completamente, sintomas como dor, desconforto e distensão sejam melhorados. Trata-se de modalidade direcionada a casos em que o câncer já se tornou irressecável ou incurável, porém os sintomas apresentados pelo paciente podem ser beneficiados pela cirurgia.

Reconstrutiva 

Trata-se de cirurgia focada em restabelecer, do ponto de vista funcional e/ou estético, áreas de tecido saudável que tenham sido afetadas na realização de cirurgias curativas anteriores.

Um exemplo clássico de cirurgia curativa consiste na reconstrução mamária, realizada após mastectomia focada no tratamento de câncer de mama.

Profilática

A cirurgia profilática, menos comum e com indicações mais restritas que as anteriores, visa a eliminar o risco de desenvolvimento de câncer em pacientes com risco aumentado para o desenvolvimento deles.

Um exemplo clássico de cirurgia curativa consiste na adenomastectomia e ooforectomia profiláticas, indicada para prevenção de câncer de mama e de ovário, em pacientes com mutação de BRCA1 e/ou BRCA2, ou com histórico de radioterapia torácica 

Estratégias de Tratamento

A abordagem na cirurgia oncológica é sempre personalizada, considerando diversos fatores como tipo e estágio do câncer, idade do paciente, comorbidades e preferências pessoais. O tratamento pode ser isolado ou fazer parte de um plano combinado, que por vezes inclui outras modalidades terapêuticas:

  • Cirurgia isolada: Indicada nos casos de tumores localizados e de menor agressividade.
  • Tratamento neoadjuvante: A cirurgia acontece após quimioterapia ou radioterapia, com o objetivo de reduzir o tamanho do tumor antes da intervenção.

O tratamento neoadjuvante, com quimioterapia e/ou radioterapia, tem sido cada vez mais indicado em diversos tipos de câncer, em que os ensaios clínicos randomizados demonstraram benefício de sobrevida quando ele é realizado antes do tratamento cirúrgico. 

Para ilustrar o tema, observe a tabela retirada do Extensivo do Estratégia MED, que resume a indicações de radioterapia neoadjuvante no câncer de reto

  • Tratamento adjuvante: Nesses casos, cirurgia é seguida por outras terapias, visando eliminar possíveis células cancerígenas remanescentes e reduzir o risco de recorrência.

Avanços e Inovações

A cirurgia oncológica tem se beneficiado de avanços tecnológicos e técnicas inovadoras. A laparoscopia e a cirurgia robótica, por exemplo, permitem intervenções menos invasivas, com recuperação mais rápida e menor risco de complicações. A cada dia, novos métodos e equipamentos estão sendo desenvolvidos para melhorar a precisão cirúrgica e os resultados para os pacientes.

Em resumo, a cirurgia oncológica é uma especialidade vital e complexa, essencial para o combate ao câncer. Ela combina habilidades técnicas avançadas com um profundo conhecimento da doença, visando proporcionar o melhor cuidado possível aos pacientes oncológicos.

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A rotina de um cirurgião oncológico

Consultas e avaliações

Os cirurgiões oncológicos geralmente começam o dia com consultas e avaliações de pacientes. Durante estas consultas, o especialista coleta informações detalhadas sobre o histórico médico do paciente, realiza exames físicos e discute os resultados de exames anteriores, como biópsias e exames de imagem. Na quase totalidade dos casos, os pacientes não procuram tal especialista diretamente, mas são encaminhados a ele por médicos de outras áreas que tratam câncer com necessidade de tratamento cirúrgico – oncologistas, gastroenterologistas, ginecologistas, etc.

Planejamento cirúrgico

Após as consultas iniciais, a etapa de planejamento cirúrgico é vital. Nesta fase, o cirurgião trabalha em estreita colaboração com uma equipe multidisciplinar que inclui oncologistas, radioterapeutas, patologistas e outros especialistas.

  • Revisão de exames de imagem: A equipe revisa exames de imagem avançada, como tomografias e ressonâncias magnéticas, para determinar a extensão do tumor e delinear a melhor abordagem cirúrgica.
  • Definição de técnicas cirúrgicas: O tipo de cirurgia mais adequado para cada caso é decidido, podendo variar de procedimentos menos invasivos, como laparoscopias, até cirurgias mais extensas e complexas.

Cirurgias

Uma parte significativa da rotina do cirurgião oncológico é dedicada à realização das cirurgias propriamente ditas. Isso inclui a preparação pré-operatória, a execução do procedimento e a colaboração com a equipe do centro cirúrgico.

Acompanhamento pós-cirúrgico

O acompanhamento contínuo dos pacientes no período de recuperação é outro aspecto importante.

  • Monitoramento pós-operatório: O cirurgião monitora o progresso da recuperação, verificando sinais de complicações e garantindo que a evolução do paciente ocorra conforme o esperado.
  • Exames de acompanhamento: Novos exames podem ser requisitados para avaliar a eficácia da cirurgia e planejar os próximos passos do tratamento.

Mercado de trabalho e remuneração para cirurgiões oncológicos

Locais mais comuns de trabalho

Setor público

  • Hospitais Universitários: Proporcionam não apenas a prática médica, mas também oportunidades de pesquisa e ensino.
  • Hospitais Gerais: Incluem centros de saúde estaduais e municipais que oferecem tratamento oncológico.
  • Institutos de Câncer: Especificamente voltados ao tratamento, diagnóstico e pesquisa do câncer, como o Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Setor privado

  • Hospitais Particulares: Geralmente localizados em grandes centros urbanos, dispõem de recursos avançados e uma estrutura robusta para tratamentos complexos.
  • Clínicas Especializadas: Oferecem serviços focados exclusivamente em tratamento oncológico, incluindo procedimentos cirúrgicos.
  • Consultórios Particulares: Possibilitam que cirurgiões oncológicos atendam pacientes de forma mais personalizada, além de permitir uma maior flexibilidade de horários.

Remuneração

No que diz respeito à remuneração, são escassas as referências salariais no mercado brasileiro. Há importantes variações entre o setor público e o privado. 

A remuneração no setor público pode variar de acordo com a localidade e a experiência do profissional. Todavia, a remuneração nesses casos seguirá o valor padronizado pago por  Valores iniciais podem girar em torno de R$ 8.000 a R$ 15.000 por mês, dependendo do cargo e da instituição. No entanto, benefícios adicionais, como estabilidade no emprego e planos de carreira, devem ser considerados.

Setor privado

O setor privado tende a oferecer remuneração mais atrativa, especialmente em clínicas e hospitais de grande porte. São escassas as referências salariais para tal no Brasil. Todavia, com base no que é mais comum para outras subespecialidades cirúrgicas, espera-se que os cirurgiões oncológicos atuantes no setor privado ganhem acima de R$ 30.000 mensais, um valor que pode subir, em muito, caso aumente a quantidade de cirurgias e procedimentos realizados pelo setor.

Formação em Cirurgia Oncológica

A formação em cirurgia oncológica é realizada por meio da residência médica na especialidade. Para realizá-la, após a formação em medicina, com duração de 6 anos, os médicos devem realizar processo seletivo inicialmente para residência em cirurgia geral e concluir tal especialização, com duração de 3 anos.

Concluída a residência em cirurgia geral, passa-se por novo processo seletivo, para a residência em cirurgia oncológica, que terá duração de outros 3 anos.

Perspectivas

Por se tratar de uma área que requer alto grau de especialização e recursos de ponta, a cirurgia oncológica fica restrita sobretudo a grandes centros urbanos e a hospitais de ponta, tanto no setor público, como no privado.  Isso pode ser visto como vantagem, à medida que tem o potencial de levar a maior valorização do profissional, porém traz a ressalva de que não se trata de especialidade que permite o trabalho em localidades pequenas e com poucos recursos – o que é o mais comum de ocorrer, na medicina, à medida que aumenta o grau de especialização do médico, sobretudo em especialidades cirúrgicas.

Além disso, cabe observar que a formação para especialização em cirurgia oncológica demanda um grande investimento de tempo: após os 6 anos de formação médica, é necessária a residência em cirurgia geral, com duração de 3 anos, seguida, então, pela residência em cirurgia oncológica, com duração de outros 3 anos.

Conclusão

A cirurgia oncológica desempenha um papel crucial no tratamento do câncer, combinando habilidades cirúrgicas avançadas com um profundo conhecimento oncológico. Esta especialidade envolve procedimentos variados, desde ressecções tumorais até cirurgias reconstrutivas, sempre com o objetivo de remover eficazmente o câncer e minimizar o risco de recorrência. A formação do cirurgião oncológico é rigorosa, exigindo residência em cirurgia geral seguida de um treinamento específico em cirurgia oncológica, que proporciona uma experiência prática intensiva.

O mercado de trabalho para cirurgiões oncológicos é promissor, especialmente nas grandes cidades e centros urbanos, devido à crescente demanda no tratamento do câncer. A remuneração pode ser significativa, particularmente no setor privado, refletindo a alta especialização e a importância desse profissional na equipe multidisciplinar de tratamento do câncer. 

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