Dosagem e cálculo de medicação: fundamentos para atuação ambulatorial

A correta dosagem e o cálculo preciso da medicação são essenciais para garantir uma atuação médica segura e eficaz no ambiente ambulatorial. Compreender os princípios de farmacologia e ser capaz de realizar cálculos exatos é crucial para tratar diversas patologias com eficiência, minimizando riscos e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. 

Este artigo explora as principais classes de medicamentos usados rotineiramente em ambulatórios, como anti-inflamatórios, antidiabéticos e anti-hipertensivos, oferecendo orientações detalhadas sobre suas dosagens e possíveis efeitos adversos. Além disso, discutiremos os erros de medicação mais comuns e as melhores práticas para preveni-los.

Princípios de farmacologia e dosagem de medicação

A farmacologia se revela uma ciência essencial na prática médica, particularmente na atuação ambulatorial. Estabelecer uma compreensão sólida dos princípios que envolvem a dosagem de medicamentos é fundamental para uma prescrição segura e eficaz.

Classes principais de medicações

Ao longo dos anos, o desenvolvimento de medicamentos ampliou significativamente as opções terapêuticas disponíveis. No contexto ambulatorial, destacam-se algumas classes principais de medicações:

  • Analgésicos e anti-inflamatórios: Utilizados para aliviar dor e inflamação, como dipirona e ibuprofeno.
  • Antidiabéticos: Essenciais para controlar os níveis de glicose em pacientes com diabetes tipo 2, como metformina e sulfanilureias.
  • Anti-hipertensivos: Cruciais para o manejo da pressão arterial em pacientes hipertensos, incluindo IECA e bloqueadores dos canais de cálcio.

Analgésicos e anti-inflamatórios: dosagem

Dipirona

A dipirona é amplamente utilizada devido ao seu potencial analgésico, efeito antitérmico e disponibilidade. Deve ser administrada com cautela em pacientes com histórico de hipotensão ou alergia à medicação. A dose recomendada varia entre 500 mg a 2 g de 6 em 6 horas, não ultrapassando 8 g em 24 horas.

Paracetamol

Com menor potencial analgésico comparado à dipirona, é a escolha em casos de alergia a outros medicamentos. A dose máxima permitida é de 1 g a cada 8 horas, totalizando 4 g por dia, sendo necessário monitorar a função hepática para evitar hepatotoxicidade.

Ibuprofeno

Este anti-inflamatório é eficaz no alívio da dor, porém requer atenção devido ao maior risco de hemorragia digestiva e de alteração de função renal, sobretudo em pacientes idosos.. A dose máxima segura é de 2,4 a 3,2 g por dia, divididas em 3 ou 4 doses.

Antidiabéticos: dosagem e prescrições

Sulfonilureias

Atuando no estímulo da secreção de insulina, são comuns no tratamento de diabetes tipo 2. 

Entre as principais opções:

  • Glibenclamida: Inicialmente de 2,5 a 5 mg por dia, com potencial aumento até 20 mg por dia.
  • Glimepirida: Inicia-se com 1 a 2 mg por dia, podendo atingir 8 mg conforme necessidade.

Glinidas

Indicadas para controle da glicemia pós-prandial:

  • Repaglinida: Dose de 0,5 a 16 mg, administradas antes das refeições.
  • Nateglinida: Dose de 120 a 360 mg, três vezes ao dia, também antes das refeições.

Biguanidas e Glitazonas

Metformina

A metformina, a representante das biguanidas, é bem conhecida por sua efetividade na redução da resistência insulínica. Disponível em formulações de liberação imediata e prolongada (XR), a dose varia de 1.000 a 2.550 mg por dia, divididas em duas ou três administrações.

Pioglitazona

Referente às glitazonas, a pioglitazona sensibiliza os tecidos à insulina. A dose inicial recomendada é de 15 mg por dia, podendo ser ajustada até 45 mg conforme necessário.

Inibidores de alfa-glicosidase e DPP-IV

Acarbose

Esta classe retarda a absorção de glicose, agindo principalmente no controle glicêmico pós-prandial. A dosagem vai de 50 a 300 mg, ingerida três vezes ao dia após as refeições.

Inibidores de DPP-IV

Medicamentos como sitagliptina e vildagliptina atuam de forma incretinomimética, regulando a secreção de insulina:

  • Sitagliptina: Padrão de 50 ou 100 mg diários.
  • Vildagliptina: Padrão de 50 mg, duas vezes ao dia.

A compreensão detalhada dessas classes e dosagens, bem como dos mecanismos de ação e potenciais riscos associados, permite ao profissional de saúde realizar prescrições mais precisas e seguras.

Anti-hipertensivos

Classes e indicações:

  1. Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA):
  • Captopril: Reduz produção de angiotensina II, aumentando bradicinina – a dose máxima para tratamento de hipertensão, dividida em 3 tomada, não supera 150mg/dia.
  • Enalapril: dose máxima de 40mg/dia, em uma ou duas tomadas.
  1. Bloqueadores dos Receptores da Angiotensina II (BRA):
  • Losartan e Valsartan: Bloqueiam ação da angiotensina II, reduzindo vasoconstrição. A losartana, mais utilizada na prática, tem dose máxima no manejo da hipertensão de 50mg 12/12h.
  1. Bloqueadores dos Canais de Cálcio (BCC):
    • Nifedipino e Anlodipino: Impedem entrada de cálcio nas células musculares lisas, diminuindo contração muscular. O anlodipino, mais usado na prática, tem dose máxima de 10mg/dia, dividido em uma ou duas tomada.
  1. Diuréticos:
  • Hidroclorotiazida e Furosemida: Aumentam produção de urina, reduzindo volume sanguíneo.
    • A hidroclorotiazida é usada como primeira-escolha para manejo da hipertensão, com dose de 25mg/dia, geralmente de manhã.
    • O uso da furosemida na hipertensão em geral fica reservado  a paciente com mau controle mesmo em uso de várias medicações, ou com contraindicações às outras medicações.
  1. Betabloqueadores:
  • Propranolol e Metoprolol: Reduzem frequência cardíaca e força de contração. Os betabloqueadores não são medicações de primeira escolha no manejo da pressão elevada, mas podem ser usados em alguns casos – têm mais benefício, por exemplo, para paciente com doença arterial coronariana.

Conhecer detalhadamente as classes de anti-inflamatórios, antidiabéticos e anti-hipertensivos, juntamente com suas dosagens adequadas, é essencial para uma prática ambulatorial responsável. Estes conhecimentos não apenas garantem a eficácia do tratamento, mas também minimizam os riscos de eventos adversos, assegurando uma melhor qualidade de vida aos pacientes.

Erros comuns e estratégias de prevenção na dosagem medicamentosa

Uma prescrição equivocada pode ter consequências graves para o paciente, incluindo reações adversas severas e, em casos extremos, fatalidades. Por isso, a atenção aos detalhes e a implementação de estratégias de segurança são essenciais. A seguir, destacamos alguns erros comuns na dosagem medicamentosa e as estratégias recomendadas para sua prevenção.

Erros na dosagem

  1. Erro de cálculos matemáticos:
    • Confundir unidades de medida, como miligramas (mg) com gramas (g).
  • Erros ao utilizar fórmulas para calcular a dosagem, onde pequenas distrações podem resultar em dosagens incorretas.
  1. Caligrafia ilegível:
  • Prescrições feitas à mão podem ser mal interpretadas por outros profissionais devido a uma escrita ilegível, resultando em administração incorreta de medicamentos.
  1. Uso inadequado de abreviações:
    • Abreviações podem ser mal interpretadas. Por exemplo, “U” para unidades pode ser confundido com “0” (zero), levando a uma dosagem dez vezes maior do que a indicada.
  2. Duplicidade de medicamentos:
  • O paciente pode acabar recebendo dois medicamentos com o mesmo princípio ativo, devido à prescrição inadvertida de diferentes nomes comerciais ou genéricos para a mesma substância.

Estratégias de prevenção

  1. Utilização de calculadoras médicas:
  • Existem aplicativos e softwares específicos que facilitam os cálculos de dosagem, proporcionando mais segurança e agilidade na prescrição.
  1. Comunicação clara e eficaz:
  • Manter uma comunicação clara e detalhada com toda a equipe de saúde. Informar de maneira completa e precisa sobre alterações na terapia medicamentosa do paciente.
  1. Caligrafia legível:
    • Adotar a prática de escrever de maneira clara ou utilizar letras de forma. Nos casos em que a tecnologia esteja disponível, preferir prescrições eletrônicas para minimizar o risco de erros de leitura.
  2. Sistema de alerta para medicamentos duplicados:
  • Sistemas informatizados que indicam alertas para a duplicidade de princípios ativos podem prevenir a administração desnecessária de medicamentos.
  1. Educação continuada:
  • Promover treinamentos regulares sobre dosagem e novos protocolos de prescrição entre os profissionais de saúde.

Casos de erro por confusão de embalagens

Erros acontecem também devido à semelhança entre embalagens de diferentes medicamentos. Confundir remédios com aparência similar pode ter efeitos deletérios.

Estratégia de prevenção:

  • Etiqueta clara e colorida:
    A utilização de etiquetas coloridas e com indicação clara do nome do medicamento pode auxiliar na distinção rápida e eficaz entre diferentes fármacos, principalmente em ambientes de alta rotatividade de pessoal e medicamentos.

Polifarmácia e interações medicamentosas

Pacientes em polifarmácia, com a administração simultânea de múltiplas medicações, têm um risco elevado de interações medicamentosas que podem afetar a eficácia do tratamento ou provocar eventos adversos.

Estratégia de prevenção:

  • Revisão periódica da terapia:
    Realizar revisões periódicas das medicações do paciente para ajustar doses, evitar duplicidades e monitorar interações potenciais.
  • Praticar a desprescrição

Avaliar frequentemente os medicamentos utilizados pelo paciente, tendo atenção especial com interações medicamentosas e com medicações com maior risco de malefício e baixo risco de benefício no longo prazo, permite a prática frequente da desprescrição, essencial sobretudo em geriatria

Além disso, alguns critérios, como os critérios de Beers, elencam medicações não pouco apropriadas para a população idosa, e podem auxiliar em tal prática 

Conclusão

A correta dosagem e cálculo de medicação são pilares fundamentais na atuação ambulatorial, assegurando a eficiência e segurança do tratamento dos pacientes. Compreender os princípios básicos de farmacologia, familiarizar-se com as principais classes de medicamentos e suas posologias, como analgésicos, anti-inflamatórios, antidiabéticos e anti-hipertensivos, é vital para evitar erros de prescrição que possam comprometer seriamente a saúde do paciente. 

Reforçar a comunicação entre os profissionais de saúde, manter a caligrafia legível e estar atualizado com os protocolos de segurança são medidas essenciais para minimizar erros de medicação. A adoção de uma abordagem meticulosa e educativa na prescrição não só aprimora os resultados clínicos como também fortalece a confiança dos pacientes no sistema de saúde. Ao dominar esses fundamentos, os médicos generalistas poderão executar uma prática ambulatorial mais segura, eficaz e responsável, garantindo um atendimento de excelência.

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