A primeira fase do Modernismo brasileiro, ocorrida entre 1922 e 1930, representa uma das eras mais transformadoras da literatura e das artes brasileiras.
Este período, também conhecido como “Modernismo Radical”, foi marcado por uma série de movimentos e escritos que buscavam romper com as tradições acadêmicas e o passado colonial, promovendo uma arte genuinamente brasileira e moderna.
O que você vai ler neste artigo
Contexto histórico
O ano de 1922 foi transcendente para o Brasil e sua cultura, coincidentemente marcando o centenário da Independência. A Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, foi o evento principal que deu o pontapé inicial para o Modernismo no país. Artistas de diferentes áreas colaboraram para mostrar suas buscas por novas formas de expressão, que refletissem a identidade brasileira sem depender das influências europeias.
Essas novas ideias acabaram se cristalizando em diversos manifestos, que buscaram delinear os ideais e conceitos que guiariam este movimento revolucionário. Esses textos eram não apenas teóricos, mas também carregavam a missão de provocar um impacto real na prática artística e cultural do país.
Manifesto Pau-Brasil
O Manifesto Pau-Brasil, lançado por Oswald de Andrade em 1924, é um dos textos mais emblemáticos dessa fase. Ele destaca a beleza e riqueza da cultura brasileira, recusando modelos europeus e exaltando a espontaneidade e a simplicidade da vida e do folclore brasileiros. Andrade afirmava que a língua devia ser livre de arcaísmos e erudições, propondo uma comunicação mais direta e autêntica.
“O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança. (…)”
Manifesto Verde-Amarelismo
Outro grupo importante foi o Verde-Amarelismo, fundado em 1927 por Plínio Salgado, Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo. Este grupo tinha como objetivo celebrar a brasilidade, defendendo um nacionalismo baseado na introspecção e na liberdade individual. Eles acreditavam que a verdadeira identidade brasileira só poderia ser alcançada com profundo respeito pelas raízes e pela cultura do próprio país, sem recorrer a influências externas.
“Nosso nacionalismo é de afirmação, de colaboração coletiva, de igualdade dos povos e das raças, de liberdade do pensamento, de crença na predestinação do Brasil na humanidade, de em nosso valor de construção nacional.”
Manifesto Antropofágico
Talvez o manifesto mais radical e icônico dessa fase seja o Manifesto Antropofágico, lançado por Oswald de Andrade em 1928. Inspirado na metáfora da “antropofagia” indígena, o manifesto propunha uma “deglutição cultural”, em que o Brasil assimilaria e reinventaria elementos estrangeiros, fundindo-os com seus próprios para criar algo novo e genuíno. Para Andrade, a verdadeira força cultural brasileira estava na capacidade de absorver outras influências e transformá-las em algo único.
“Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.”
Impacto e legado
Ao longo desses oito anos intensos, o Modernismo Brasileiro lançou as bases para uma nova identidade cultural, afastando-se das correntes pré-modernistas e acadêmicas que haviam dominado o cenário nacional. A Primeira Fase do Modernismo deixou um impacto duradouro que reverberou nas gerações seguintes de artistas e escritores. Esta fase não apenas reformulou a literatura brasileira, mas também abriu margens para novas formas de expressão nas artes plásticas, música e teatro.
A multiplicidade de vozes e abordagens dentro do Modernismo trouxe uma renovação que é celebrada até hoje. As manifestações modernistas eram carregadas tanto de inovação quanto de uma busca constante por descolonizar as mentes e métodos artísticos da época. Em suma, a Primeira Fase do Modernismo Brasileiro não só representou uma ruptura com o passado, mas, acima de tudo, uma celebração da diversidade e singularidade cultural do Brasil.
Através do exame desses manifestos e dos artistas que lideraram essa era, podemos entender a profundidade e a importância desse período para a formação da nossa identidade cultural e artística. Assim, estudar e analisar essas peças não é apenas um exercício acadêmico, mas também uma jornada para compreender melhor as raízes e os caminhos futuros da cultura brasileira.