A Cirurgia do Aparelho Digestivo é uma especialidade médica que atrai aqueles que buscam unir o talento manual à expertise teórica. Essa área da medicina se dedica ao tratamento cirúrgico de condições que afetam órgãos como o fígado, pâncreas e intestinos, demandando do profissional um profundo conhecimento da anatomia e fisiopatologia do sistema digestivo. Ser um gastrocirurgião não se resume ao centro cirúrgico, mas envolve também uma rotina que pode incluir exames diagnósticos e terapêuticos, variando conforme a subespecialidade escolhida.
Com um mercado de trabalho diversificado que vai desde cirurgias ambulatoriais até complexos transplantes de órgãos, a área oferece oportunidades para diferentes perfis profissionais.
O que você vai ler neste artigo
A rotina do gastrocirurgião
O dia a dia de um gastrocirurgião é diversificado e exige habilidades tanto teóricas quanto práticas. Esse profissional dedica-se a uma ampla gama de atividades que não se restringem apenas ao centro cirúrgico.
Primeiramente, um aspecto interessante da rotina dos gastrocirurgiões é o equilíbrio necessário entre as atividades de diagnóstico e tratamento. Eles frequentemente realizam uma série de exames diagnósticos e procedimentos terapêuticos, que fazem parte do processo de avaliação do paciente – uma atividade de destaque consiste na endoscopia digestiva alta, que não toma grande parte do tempo de trabalho do médico e permite uma boa remuneração.
Dentre os procedimentos diagnósticos altamente específicos que podem ser realizados pelo gastrocirurgião, destaca-se o ultrassom endoscópico, utilizado para o diagnóstico de diversos tipo de lesões do trato gastrointestinal – na imagem abaixo, retirada do Extensivo do Estratégia MED, ilustra-se sua aplicação no diagnóstico de um tumor pancreático:
Os gastrocirurgiões que optam por realizar cirurgias de baixa complexidade, como hernioplastias e colecistectomias laparoscópicas, tendem a ter uma rotina relativamente mais controlada. Esses procedimentos têm uma baixa taxa de complicações pós-operatórias, permitindo que os profissionais lidem com casos de rápido diagnóstico e tratamento.
Uma das cirurgias mais realizadas pelo gastrocirurgião consiste na colecistectomia, que pode ser realizada tanto por via aberta, como por via laparoscópica. Neste caso, o cirurgião tem a visão do famoso trígona de Calot: observe-o na ilustração do Extensivo do Estratégia MED:
Outro importante campo de atuação do gastrocirurgião consiste na realização de cirurgia bariátrica, cujas indicações têm sido ampliadas nos últimos anos – destacam-se, nesse sentido, as evidências de benefício do bypass gástrico em Y-de-Roux no controle de comorbidades como diabetes e hipertensão; observe o mapa mental do Estratégia MED com as informações principais sobre tal cirurgia, extensamente cobrada nas provas de residência médica:
Por outro lado, os profissionais que se voltam para cirurgias de alta complexidade, como as oncológicas e transplantes, lidam com um cenário muito mais desafiador. Nestes casos, o gastrocirurgião é exposto a cirurgias longas e complexas, envolvendo cuidados pós-operatórios extensos. A intensidade desses procedimentos geralmente resulta em um ambiente de trabalho colaborativo e interativo, requerendo coordenação com equipes multidisciplinares. Além disso, tal tipo de cirurgias é realizada exclusivamente em grandes centros hospitalares, com mais recursos diagnósticos e terapêuticos – fatores que devem ser considerados pelos médicos atraídos pela área.
Por fim, um aspecto a ser mencionado é a flexibilidade de horários que a maioria desses profissionais tem quando optam por trabalhar em regimes de plantão ou em clínicas que funcionam durante o horário comercial. Para aqueles que preferem uma rotina menos sobrecarregada, a vida acadêmica e exames endoscópicos podem proporcionar horários mais regulares, ainda que no início da carreira alguns plantões sejam frequentes para garantir a experiência necessária.
Características essenciais do profissional
Os gastrocirurgiões devem possuir um conjunto específico de habilidades e conhecimentos que os diferenciam em sua prática. Em primeiro lugar, a habilidade manual é essencial. Os procedimentos cirúrgicos requerem precisão e destreza para garantir que intervenções complexas sejam realizadas com sucesso. Somado a isso, é imprescindível que o profissional tenha um profundo conhecimento teórico — entender a anatomia do sistema digestivo em detalhe, bem como a cavidade torácica e abdominal é crucial.
A fisiopatologia gastroenterológica é outra área de conhecimento que deve ser dominada pelos gastrocirurgiões, permitindo-lhes lidar com uma variedade de condições clínicas. Além disso, a capacidade de integrar teoria e prática cirúrgica é fundamental para o sucesso na especialidade.
Cabe destacar o grande período de tempo necessário para a formação em gastrocirurgia: são 6 anos de faculdade em medicina, seguidos por 3 anos de residência em cirurgia geral e, por fim, por mais dois anos em cirurgia do aparelho digestivo.
Trabalho em equipe e comunicação
A natureza multidisciplinar da cirurgia digestiva significa que a comunicação eficaz e a habilidade para trabalhar em equipe são características essenciais. Os gastrocirurgiões frequentemente colaboram com uma gama diversificada de profissionais de saúde, incluindo anestesistas, intensivistas, clínicos, radiologistas, além de enfermeiros, fisioterapeutas e outros assistentes. Essa colaboração é vital para garantir a melhor atenção ao paciente e para o sucesso dos procedimentos cirúrgicos.
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Comprometimento com a atualização contínua
Na área da saúde, a inovação e o avanço do conhecimento são constantes, e na cirurgia do aparelho digestivo não é diferente. Portanto, é fundamental que o gastrocirurgião seja comprometido com a atualização contínua e a educação permanente. Participar de conferências, congressos e cursos de formação são práticas comuns para se manter atualizado sobre as últimas técnicas e descobertas na área.
A apreciação pela pesquisa e desenvolvimento técnico também distingue esses médicos, uma vez que muitos se envolvem em produção científica, investigando novas práticas e melhorando as existentes.
Resiliência física e mental
A resiliência, tanto física quanto mental, não pode ser subestimada nessa profissão. As cirurgias podem ser longas e extenuantes, exigindo do profissional condições físicas adequadas para suportar horas em um centro cirúrgico. Do ponto de vista mental, os desafios diários e a exigência para resolver casos complexos demandam alta capacidade de concentração e estabilidade emocional.
Empatia e cuidado com o paciente
Finalmente, apesar do foco técnico e científico, o gastrocirurgião deve manter empatia e uma atitude centrada no paciente. Construir uma relação de confiança com os pacientes é vital, especialmente porque muitos enfrentarão procedimentos cirúrgicos delicados ou longas jornadas de recuperação.
Assim, essas características não só representam um requisito para o sucesso na carreira, mas também são fundamentais para a formação de um profissional que oferece cuidado compassivo e eficaz aos seus pacientes.
O mercado de trabalho e remuneração na área
A profissão de gastrocirurgião oferece um leque de oportunidades dentro do mercado de trabalho, adaptando-se às metas profissionais, seja para alcançar uma vida tranquila ou buscar prestígio e desafios diários.
No Brasil, existem 3.840 gastrocirurgiões, segundo dados de 2023 do Conselho Federal de Medicina (CFM). Este número destaca a demanda por profissionais qualificados no campo da cirurgia digestiva.
As opções de atuação são amplas e incluem realizar procedimentos endoscópicos, que são amplamente cobertos pelos planos de saúde. Embora a remuneração desses procedimentos possa ser considerada mais baixa, a prática intensiva pode trazer um retorno financeiro significativo. Cirurgias de baixa e média complexidade também são uma possibilidade, tanto nas grandes cidades quanto em regiões mais interioranas, oferecendo aos médicos a chance de desenvolver uma prática clínica menos agitada.
Por outro lado, aqueles que buscam enfrentar os desafios da medicina têm a opção de se especializar em cirurgias de alta complexidade, como as oncológicas e os transplantes de órgãos do aparelho digestivo. Estas áreas requerem vasta dedicação intelectual e física, mas garantem uma remuneração justa, especialmente por serem procedimentos realizados principalmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A especialização em transplante hepático é longa e requer a atuação em grandes centros hospitalares, habilitados em tal prática cirúrgica. Além disso, as indicações de transplante hepático são específicas e dependem do grau de morbidade da doença hepática dos pacientes. Em destaque, observe na tabela abaixo as situações clínicas com prioridade para transplante hepática, cobradas pelas provas de residência médica:
Os dados disponíveis sobre a remuneração média do gastrocirurgão no Brasil são escassos. Em média, para uma carga horária semanal de 30 a 40 horas, os dados indicam uma remuneração mensal de R$ 17.492,14.
Na prática, pelo contato com especialistas da área, sabe-se que médicos que realizem maior carga de procedimentos endoscópicos e cirurgias no sistema privado podem obter ganhos bem superiores a esse. Como ressalva, porém, tem-se que, de modo geral, a média de remuneração do gastrocirurgião é inferior à de outras especialidades cirúrgicas como cirurgia vascular, urologia e cirurgia plástica, menos dependentes da atuação aliada a convênios médicos e no SUS.
Conclusão
A cirurgia do aparelho digestivo apresenta-se como uma promissora especialidade médica, unindo a complexidade cirúrgica à necessidade de um profundo embasamento teórico. A carreira é bastante abrangente e oferece ao profissional a possibilidade de se dedicar a procedimentos de diferentes complexidades, desde cirurgias ambulatoriais até complexas operações oncológicas e transplantes. A rotina do gastrocirurgião pode ser adaptada conforme suas preferências, permitindo uma jornada equilibrada com a realização de exames endoscópicos em horário comercial ou uma vida mais intensa com participação em cirurgias de alta complexidade e plantões em grandes centros urbanos.
No que tange ao mercado de trabalho e remuneração, a área oferece múltiplas oportunidades, adaptando-se às expectativas de cada profissional, seja em busca de prestígio, retorno financeiro ou contribuição acadêmica. O salário médio de um cirurgião do aparelho digestivo no Brasil é atrativo, podendo variar de acordo com a carga horária e o nível de especialização. Além disso, a subespecialização, embora exija uma dedicação maior e mais tempo, possibilita um diferencial competitivo e um reconhecimento profissional significativo. Para estudantes dedicados, a escolha pela cirurgia do aparelho digestivo pode ser uma decisão estratégica, unindo paixão pela medicina à garantia de sucesso e estabilidade profissional.
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