O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sempre revelou um diversificado conjunto de redações que alcançaram a nota 1000, evidenciando não apenas a competência linguística dos estudantes, mas também a profunda reflexão sobre temas sociais pertinentes.
O acesso aos espelhos das redações dos alunos, permitindo uma ‘vista pedagógica’, oferece uma oportunidade única para compreender o que eleva um texto a essa categoria de excelência.
O que você vai ler neste artigo
Estrutura e abordagem dos textos
Cada redação nota 1000 compartilha um traço comum que é a organização rigorosa em termos de estrutura, que inclui uma introdução clara, desenvolvimento coerente e uma conclusão assertiva, além de uma proposta de intervenção bem fundamentada e alinhada às normas do Inep.
- Introdução: As redações começam com uma contextualização do tema, apresentando a relevância social e vinculando-o a referências literárias ou dados estatísticos.
- Desenvolvimento: Os candidatos exploram o tema profundamente, utilizando argumentos sólidos e exemplos pertinentes. Eles dialogam com filósofos, sociólogos e literatura relevante para enriquecer a discussão.
- Conclusão: A conclusão recapitula os pontos abordados e reforça a necessidade de ações concretas, oferecendo soluções viáveis que refletem um entendimento aprofundado das complexidades envolvidas.
Temáticas abordadas
As redações analisadas de 2023 focaram em temas sociais complexos que exigiam dos candidatos não apenas sensibilidade, mas também um entendimento crítico sobre questões contemporâneas.
- Visibilidade do trabalho de cuidado feminino: Nesse tema, os candidatos discutiram a invisibilidade histórica do trabalho de cuidado realizado predominantemente por mulheres, evidenciando as desigualdades de gênero ainda presentes na sociedade brasileira. A discussão frequentemente se vinculou à insuficiência de políticas públicas que valorizem e remunerem adequadamente este trabalho essencial.
- Reinserção social de pessoas em situação de rua: Para quem fez a reaplicação do Enem, o desafio foi analisar os obstáculos para a reinserção socioeconômica de populações marginalizadas. Os estudantes propuseram desde reformulações legislativas até programas de governo específicos para enfrentar essa questão, utilizando dados e estudos recentes para embasar suas argumentações.
Exemplos notáveis
Algumas redações de 2023 específicas se destacaram pelo uso excepcional de referências e uma habilidade notável de ligar teoria e prática:
Maria Luiza Januzzi, de Valença (RJ)
Utilizou Djamila Ribeiro para discutir a importância de tirar o trabalho de cuidado feminino da invisibilidade, propondo ações governamentais e a mudança de narrativas midiáticas sobre o tema.
Confira a redação:
De acordo com a pensadora brasileira Djamila Ribeiro, o primeiro passo a ser tomado para solucionar uma questão é tirá-la da invisibilidade. Porém, no contexto atual do Brasil, as mulheres enfrentam diversos desafios para que seu trabalho de cuidado seja reconhecido, gerando graves impactos em suas vidas, como a falta de destaque. Nesse sentido, essa problemática ocorre em virtude da omissão governamental e da influência midiática.
Dessa forma, em primeiro plano, é preciso atentar para o descaso estatal em relação aos obstáculos enfrentados diariamente por mulheres que trabalham como cuidadoras. Segundo John Locke, “as leis fizeram-se para os homens e não para as leis”. No entanto, a inércia governamental direcionada à tais pessoas não cumpre com o previsto na Carta Magna, visto que a falta de investimento em políticas públicas causa dificuldades no âmbito profissional deste setor – como a desvalorização salarial. Isso contribui para que suas necessidades sejam cada vez mais negligenciadas.
Além disso, a influência dos meios digitais é um fator agravante no que tange ao problema. Para Chimamanda Adichie, mudar o “status quo” – o estado atual das coisas – é sempre penoso. Essa conjuntura pode ser observada no papel que a mídia possui na luta diária de mulheres que exercem o trabalho do cuidado ou doméstico, uma vez que ela auxilia no fortalecimento de uma mentalidade social machista no país. Isso ocasionou o silenciamento da população feminina, enraizando a lógica do patriarcado na sociedade. Diante do exposto, as mulheres perdem a voz na busca por direitos profissionais na área de cuidado, ao ser propagada a ideia de que essa função é sua, e somente sua, obrigação.
Portanto, é necessário que esta situação seja dissolvida. Para isso, o governo, órgão responsável por garantir a condição e existência de todos, deve prover apoio psicológico e financeiro às cuidadoras, por meio de investimentos e pelo exercício das leis, a fim de sanar a vulnerabilidade socioeconômica existente no cotidiano desses grupos. Paralelamente, os meios de comunicação precisam combater a lógica de inferioridade e a concepção machista agregadas a este trabalho. Assim, será possível solucionar esta questão, pois será retirada do cenário de invisibilidade, como propõe Djamila.
Lucas Malta, de Governador Valadares (MG):
Enfatizou a discrepância entre a legislação e a realidade prática das mulheres no Brasil, usando a Constituição de 1988 como ponto de partida para discutir a falta de efetivação dos direitos das mulheres.
Confira a redação:
A Constituição Federal de 1988, documento jurídico mais importante do país, garante o trabalho remunerado e a dignidade humana como direitos de todo cidadão brasileiro, além de estabelecer a igualdade entre os gêneros masculino e feminino na sociedade. Entretanto, nota-se que tal prerrogativa não tem se reverberado na prática, visto que ainda há uma invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, o qual, muitas vezes, não apresenta retorno financeiro. Portanto, faz-se necessária a análise dos principais fatores que contribuem para esse triste cenário: o machismo e o descaso estatal.
Em primeira análise, é importante destacar que a mulher ocupa uma posição subjugada na sociedade brasileira desde o período colonial, sendo encarregada dos afazeres domésticos e dos cuidados familiares. A partir desse contexto, após anos de inferiorização, as mulheres conquistaram diversos direitos sociopolíticos, como o direito ao voto e o trabalho remunerado. Todavia, mesmo com essas conquistas, ainda é notável que existe um machismo estrutural na sociedade contemporânea, já que, segundo o IBGE, as mulheres gastam o dobro de tempo com tarefas de cuidado, quando comparadas aos homens. Nesse sentido, por ser uma tradição enraizada na sociedade, o trabalho de cuidado realizado pela população feminina é ignorado por grande parte das pessoas.
Ademais, é imperioso ressaltar que a invisibilidade e a desvalorização desse tipo de trabalho resultam, em alguns casos, na falta de remuneração, o que contraria o direito estabelecido na Constituição. De acordo com o filósofo Nicolau Maquiagem, o principal objetivo do governante é a manutenção do poder, deixando em segundo plano a busca pelo bem comum. Assim, é evidente que o Estado não se preocupa com a garantia dos direitos das mulheres, o que reflete na ausência de políticas públicas que assegurem uma remuneração digna àquelas que trabalham. dessa forma, as mulheres se encontram desamparadas, ao mesmo tempo, pela sociedade e pelo governo.
Portanto, é necessário promover ações concretas, as quais alterem o quadro de invisibilidade do trabalho realizado pela população feminina. Logo, cabe às emissoras de TV, as quais são grandes formadoras de opinião da sociedade, realizar campanhas sobre a importância de lutar contra o machismo, por meio de anúncios publicitários, a fim de desconstruir ideias de subjugação presentes no Brasil contemporâneo. Além disso, o Governo Federal deve fiscalizar as relações de trabalho para garantir a remuneração feminina.
Análise do impacto
A divulgação dessas redações serve como uma ferramenta educacional valiosa. Permite aos futuros candidatos do Enem visualizar concretamente o que é esperado em uma dissertação nota mil. Além disso, educadores podem usar esses textos como estudos de caso para ensinar técnicas de escrita eficaz e engajamento com questões sociais complexas.
Acesse o e-book Guia do Enem e prepare-se para conquistar a sua vaga!
Deseja dominar a arte da redação? Confira o nosso curso de redação e esteja pronto para tirar a nota máxima!
As redações do Enem 2023 são modelos de como a escrita pode ser usada não apenas para argumentar eficazmente, mas também para propôr soluções significativas para questões sociais prementes. Através dessa análise, tanto estudantes quanto educadores podem extrair lições valiosas sobre a interseção entre conhecimento acadêmico, consciência social e habilidade escrita.
Cursos ENEM
ENEM TOP
Saiba mais
ENEM MED Exclusive
Saiba mais
Curso Interativo ENEM - Física - Prof. Henrique Goulart
Saiba mais
Curso Interativo ENEM - Geografia - Prof.ª Priscila Lima
Saiba mais
Curso Interativo ENEM - Química - Prof. Guilherme Alves
Saiba mais
Curso Interativo ENEM - Geografia - Prof. Saulo Takami
Saiba mais
Curso Interativo ENEM - Literatura - Prof.ª Luana Signorelli
Saiba mais
Curso Interativo ENEM - Sociologia - Prof.ª Alê Lopes
Saiba mais
Curso Interativo ENEM - Biologia - Prof.ª Bruna Klassa
Saiba mais
Curso Interativo ENEM - Química - Prof. Gabriel Prazeres
Saiba mais
Leia também:
- Enem 2023: como acessar os espelhos de redação disponibilizados pelo Inep
- Enem 2023: orientações para o dia da prova
- Gabarito Enem 2023: Veja correção extraoficial do 1º dia de provas
- O que pode e o que não pode levar no dia da prova do Enem
- Quem perdeu a primeira prova do Enem 2023 pode fazer a segunda?
- Ranking Enem: preencha seu gabarito e confira sua posição
- Redação Nota 1000: dicas para alcançar a nota máxima no Enem